O caos na redação do New York Post/ Sean Hamerle Meu último post neste blog foi há exatos dez dias. Não que eu queira dar uma explicação pela demora, pois já tinha dito no início que os posts não teriam periodicidade alguma, mas só pra responder a algumas pessoas que me perguntaram: Não escrevi por excesso de pessoas ou, como disse o Augusto, falta de solidão. Veio visita para o Carnaval e por isso passei os últimos dias passeando, mostrando os pontos turísticos da cidade e “fazendo sala”. Até tive tempo, mas, pra mim, escrever quando a casa ta lotada não rola.
Até pouco tempo atrás eu só conseguia sentar pra escrever quando havia quase que silencia absoluto. Diferente de outros que escrevem apenas sentados na frente do computador, numa tarefa extremamente pacífica e concentrada, eu quando escrevo preciso levantar, dar uma caminhada pensando nas idéias, depois voltar escrever algumas frases, dar mais uma caminhada, ler em voz alta, depois reescrever metade das idéias, e por aí vai. Com gente em casa, sempre vinha alguém perguntar o que eu estava fazendo ou me distrair com alguma coisa. E, assim, acabava desistindo ou largando o texto pela metade pra continuar quando houvesse um pouco de solidão.
Por causa dessa minha mania, uma das coisas que mais me aterrorizavam quando comecei a estudar jornalismo foi o medo de não conseguir trabalhar numa redação, cheia de gente. E, pra dizer a verdade, foi bem difícil.
Quando comecei a trabalhar no Diário da Manhã (em Passo Fundo) éramos doze repórteres na redação. Doze na mesma sala, um computador do lado do outro, sem divisórias, sem portas, sem nenhuma separação, sem qualquer isolamento acústico (bem parecido com a redação da foto, só que menor e sem ninguém usando gravata). E o pior, eram doze pessoas barulhentas. O dia inteiro tinha gente falando. Se comentava sobre as notícias do dia, cada repórter falava sobre o que tava fazendo, pediam sugestões, falavam alto no telefone, gritavam uns com os outros, sem contar nas fofocas. Dessa dúzia, tinha 8 repórteres mulheres. E como todos sabem as mulheres tem um número grande de palavras para descarregar todos os dias.
Silêncio só tinha no banheiro e era pra lá que eu fugi várias vezes, nos meus primeiros dias, pra tentar escrever. Levava um bloquinho, escrevia e depois voltava pra minha mesa pra passar tudo pro computador. Era um saco, mas foi a única forma que achei para conseguir redigir as matérias que tinha que entregar no final do dia. Acho que fiz isso por umas três semanas, depois acabei me incorporando à baderna.
Trabalhava do mesmo jeito que escrevia em casa, lendo em voz alta e dando meus passeios para arejar as idéias. Ninguém dava bola, tinha até quem que fizesse igual. Com o tempo fui me aperfeiçoando. Ao mesmo tempo que escrevia, conversava com os colegas e atendia ligações. Quem olhava de fora dizia que éramos loucos. Acho que é algo do tipo “a lei da selva das redações”. Não existe redação silenciosa e quem não aprende a se acostumar no meio do tumulto, não agüenta. É uma loucura, mas uma loucura muito boa! Ai que saudades!!!!!!!
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Só para registro
Escrevi este texto sozinha, no escritório de casa com o ar condicionado ligado para fugir do calor de 35ºC de Foz do Iguaçu. Augusto só entrou por 30 segundos pra me trazer um café (combustível) e um sanduichinho. (Espero não me mal acostumar!)
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A propósito
A foto é do Columbia Journalism Review que reuniu fotos de redações de vários jornais, rádios e canais de tv dos Estados Unidos. Idéia semelhante é a de Juan Antonio Giner, que reúne imagens de redações de vários países e, inclusive, aceita fotos de outros veículos de comunicação que queiram fazer parte do acervo.